quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A cratera Ngorongoro

Se andam muito distraídos, talvez nunca tenham ouvido falar de Ngorongoro, e por isso vou fazer uma pequena introdução.

Há muitos muitos anos, havia por aquelas bandas um vulcão muito grande. Durante largos anos deitou para fora muita lava que se foi acumulando naquilo que hoje se chama as terras altas (highlands). Ate que, certo dia, pela noitinha o vulcão se apagou. E durante vários anos ali ficou, até um dia colapsar para dentro de si mesmo, ficando apenas um enorme buraco à volta de uma cratera com mais ou menos 19km de largura, no formato de um circulo quase perfeito.

Depois veio a erosão que durante milhares de anos levou terras férteis para aquela cratera, tornando-a muito abundante em fauna e flora.

O nome Ngorongoro foi dado pelos masai, que ainda hoje por ali andam, nomeadamente pelas zonas mais altas com as suas manadas de vacas. Diz-se que o nome veio do som do sino que as vacas têm no pescoço.

Chegamos cedo e fazia frio. Assim que começamos a descer a temperatura foi aumentando e o número de animais também.

As estradas dentro da cratera não são muitas e por vezes víamos alguns animais a uma distancia considerável. Mas tanto víamos uma paisagem aparentemente seca, como a seguir um lago rodeado de vegetação e cheio de hipopótamos.

Já no final do dia, e depois de encontrarmos uma família de leões, começamos a subir.

Só uma nota para dizer que sinto uma enorme desilusão com o Senhor Rei da Selva. Eu que o esperava sempre a rugir, caçar e chefiar a selva, encontrei-o sempre na sorna. Dizem os guias que eles dormitam e relaxam 18h por dia! E os machos ainda mais porque lhes pesa a cabeça! Ora a mim às vezes também pesaão é por isso que não faço nenhum durante 18h!!! Aqui, quando encontrámos um grande grupo, logo se juntaram vários jipes, que chegaram a grande velocidade levantando uma nuvem de pó que incomodou um macho e uma fêmea que descansavam logo ali. Ora, seria de esperar umas rugidelas, um olhar assustador e um passo acelerado em direcção aos visitantes, assim só naquela do respeito pelo Rei. Mas não. Nada disso. O casalinho ergueu-se na maior das calmas, e andou ainda mais calmo uns 10 metros para trás, onde se deixou cair novamente no meio da erva seca, onde continuou a relaxar... Ao melhor estilo da burguesia da idade media...

No cimo da cratera lá nos esperava o Sopa Lodge. Se vierem para estas bandas fiquem aqui ou num outro que fique assim mesmo no cimo da cratera. Vale mesmo, mesmo a pena. A vista é inesquecível!!!


















Comes, bebes e dormes - Safari way

Fazer um safari de 11 dias tem os seus desafios. Desafios que se tornam experiências, que nos enriquecem a vida e a alma.

É impensável fazer um safari sem Guia. Eles dominam os parques, os locais, os comportamentos dos animais e vêem o que nos não vimos. Para além disso ajudam-se uns aos outros. Se um vê um leopardo logo informa pelo radio, para que todos possam ver. E isso vale bastante.

Por isso, sabíamos desde o inicio que teríamos sempre guia e não tivemos grande preocupação com os temas logísticos.

Os "dormes" foram todos escolhidos pelo Senhor meu marido, e digamos que estavam em ponto de rebuçado no equilíbrio. Entre tendas mais ou menos sofisticadas e Lodges quando estávamos mais perto de cidades, tivemos sempre acomodações espectaculares, onde as pessoas eram para lá de simpáticas e o conforto nunca faltou!

Obviamente que há limitações. Estamos na selva e por isso não há de tudo. Luz: até às 9:30 da noite era o comum. Depois disso o melhor é mesmo dormir. Havia sempre rede mosquiteira à volta da cama, apesar de nós nem repelente termos trazido.
Água quente: só das 5h às 8h. Em tarangire, para ir da tenda à sala de jantar só acompanhado por um guerreiro masai que aparentemente nos protegia do ataque de um qualquer animal feroz, dado que o acampamento não era vedado. Em amboseli, havia um aviso na tenda que dizia que no caso de ouvirmos algum
barulho a meio da noite o melhor era "roll over and go back To sleep". A não ser que fosse alguém a gritar!

Sempre comemos bem. Eu diria até muito bem. No lake eyasi demos por nós numa barraca a ter um jantar de 4 pratos: salada de couve e cenoura, sopa de alho francês, perna de galinha guisada com batatas assadas com rosmaninho e pão de ló com molho de chocolate! A bebida era por norma cerveja, mas também por norma pouco fresca!
Para almoçar, e como estávamos no meio do mato, era "lunch box" preparada no local onde passamos a noite. Basicamente uma caixa de cartão com coisas como: sumo, sandes, fruta, ovo cozido, uma perna de frango, uma salada, umas bolachas e assim mais umas coisitas do género. Quando entendíamos parávamos, almoçávamos ali, no meio do mato. Super pratico. Super kitsh. Super Safari way.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

The Bushmen

Para chegar a esta tribo, parecia haver todo um ritual de preparação do qual nos aperceberíamos só no fim da visita. O ritual incluia um duche e uma massagem. Um duche não de agua mas de pó. Daquele pó que entra por todo lado e que se agarra a tudo, desde as pestanas à roupa interior e que não sai no primeiro banho de agua. A massagem vinha em simultâneo com o duche e consistia em ser abanado de forma descontrolada num jipe que seguia pelo mato, entre buracos e crateras, de forma tão convincente como se houvesse ali alguma estrada. Não havia. Só o pó do duche e os buracos da massagem.

Este ritual que começou no dia anterior, continuava neste dia, em que acordamos às 5:10h porque teríamos de sair às 5:30h. A luz, que se desligou às 9:30h da noite do dia anterior continuava desligada e o sol nem se quer dava sinal de parto. Com um pequeno candeeiro solar e tropeçando nas nossas coisas lá nos conseguimos vestir e sair da tenda que toda a noite se moveu.

Uma hora depois chegamos à aldeia da tribo Hadzabe, ou Bushmen. Daqui para a frente o que vimos foi avassalador.

A primeira imagem é de 3 grupos de homens que, em diferentes degraus de um monte de pedras, se aqueciam à volta de pequenas fogueiras. Estavam com muito pouca roupa e pareciam tiritar de frio.

Cumprimentámos um a um repetindo o que o guia dizia. Fumavam o que pareciam charros e tossiam como se estivessem com pneumonia. Entre a tosse, falavam com o guia uma lingua que inclui estalinhos com a lingua.

Esta tribo só existe no rift valey e entre as varias aldeias, devem existir cerca de 10.000 pessoas. Estão a reduzir drasticamente, devido à alta mortalidade infantil, doenças respiratórias e consiguinidade.

Vivem na e da natureza. Só caçam para comer a que juntam algumas raízes e folhas. Comem de tudo excepto cobras e hienas. As cobras que matam usam para produzir alguns medicamentos. E não comem hienas, porque, tal como os masai não enterram os corpos dos mortos.

Mas os Hadzabe não são como os masai. Perto destes, os masai são ricos e estes estão no extremo da pobreza. Não têm casa, gado, jóias ou fama mundial. Só eles e a natureza. Só monogamicos, mas não respeitam qualquer parentesco (irmãos podem casar). Até há 10 anos nem roupa usavam.

Quando olhamos mais de perto vemos que alguns usam coroas de pelos de babuíno ou até a pele inteira do mesmo como agasalho.

Do outro lado da pedreira encontramos o grupo das mulheres. O cenário não é muito diferente e a este juntamos mais umas crianças, uma pelo menos, com poucos meses.

À volta da pedreira, uma espécie de abrigo individual onde ficam à noite. Há umas peles e carnes penduradas.

De seguida, somos convidados a seguir alguns mais novos na sua tarefa matinal de caça. Mal entramos no mato percebemos que aqueles miúdos andavam muito depressa e, em 10 min, não os víamos. Depois de andar e andar, assobios e gritos lá víamos um deles e depois outro. Apareciam com pombos, pequenos pássaros e esquilos atravessados pelas flechas. Andamos naquilo pelo menos 1hr. De vez em quando parava e ria. Eram 7h da manha e estávamos no meio do mato da Tanzânia atras de uns putos que caçavam de arco e flecha.

A um certo momento sentaram-se no leito de um rio cuja agua não passava hà muito tempo. Acenderam uma pequena fogueira com uns galhos. Depenaram as aves e puseram-nas em cima das chamas. Comeram. Partes cozinhadas e partes cruas. Ofereceram, nas nós nem tínhamos tomado o pequeno almoço, quanto mais ingerir um pombo de churrasco.

Um deles acompanhou-nos de volta à aldeia. Os outros continuaram a caçada.

Só no Rift Valey há mais de 50 tribos diferentes. O governo e as ONG's muito tem feito para levar o progresso a estas tribos. Por todo o lado há miúdos com uniformes da escola. Mas não os Hadzabe. Esses recusam o progresso. Vivem como os homens viviam na pré-história e é ai que querem ficar!

E quem diz que precisam de progresso para serem felizes?





















domingo, 21 de outubro de 2012

BIG FIVE

Existem mil diferenças entre um safari game e uma ida ao Zoo...
Uma delas prende-se com o facto de nem sempre conseguirmos ver todos os animais que gostariamos. E isto não é necessáriamente mau...
Após termos tido o previlegio de ver a Grande Migração com a travessia dos Gnus no Rio Mara, seria uma grande sorte conseguirmos completar os Big Five.
Antes de mais o que são os Big Five? Parece uma pergunta obvia, mas não é assim tão obvia. Esta expressão ao contrario que possa parecer, não diz respeito aos 5 maiores mamiferos existentes em Africa, mas sim, aos 5 animais de grande porte, mais dificeis de serem caçados pelo Homem.
É por esta razão que o Leopardo se encontra neste grupo restrito, e o Bufalo não.
O nosso dia em Tarangire ficará para sempre recordado pelo dia em que completámos os Big Five, isto é, o dia em que conseguimos observar em pleno habitat natural.. o timido Leopardo.
E ali estava ele em cima de uma arvore, a dormir uma bela sesta e a aproveitar o ar fresco que circulava.